64 ou 68?

à esquerda 64, à direita 68. Deveria estar ao contrário...

à esquerda 64, à direita 68. Deveria estar ao contrário…

Por Murilo Silva

O movimento que estamos vivenciando no Brasil, em especial em São Paulo, é provavelmente o maior enigma político da nossa História.

Ontem, esse blogueiro voltou as ruas de São Paulo para contemplar essa esfinge.

Durante o longo trajeto, da praça da Sé até a Avenida Paulista, subindo a ladeira da Brigadeiro Luís Antonio, se via muitos cartazes dizendo coisas do tipo: “São sim 20 centavos”, alternados com gritos de: “NÃO! são só 20 centavos…”

O movimento não pertence a ninguém, não pertence ao Passe Livre, não pertence as esquerdas, e nem as direitas tem mobilização para revindica-lo.

A forma como a grande mídia está sendo hostilizada é a prova de que esse movimento não se presta a massa de manobra. O que não quer dizer que ele não possa ser manobrado.

Ao chegar a Paulista, esse blogueiro encarou perplexo o engajamento da FIESP, maior sindicato patronal do país, a inquietação que vem das ruas.

Coincidentemente, foi ali perto que um cartaz chamou-me atenção: “Parece 1964, mas é 2013”.

Esse blogueiro deseja do fundo do coração que a bela moça, que carregava aquele pedaço de cartolina, tenha cometido um engano histórico e nada mais.

Mas aquém da esperança que deposito no próximo, a pauta conservadora embutida nos protesto é inegável. O que torna compreensiva a solidariedade da FIESP.

Nas palavras do brilhante biografo Lira Neto: “A satanização da política, o desprezo pela representatividade, a capitalização da insatisfação coletiva. São ingredientes históricos do autoritarismo.

Esses são realmente ingredientes presentes em em 1 de abril de 1964, o dia que virou noite, a noite que durou 21 anos.

Ou seja, dizer que parece 68, também teria sido um equivoco histórico da moça.

Contudo, havia ali gritos contra Feliciano – e a repressão sobre o corpo; gritos contra a repressão da polícia; gritos contra a instituição da Polícia Militar; gritos por mais justiça social.

A tônica do debate, caro colaborador, é a democracia, e não a política propriamente dita – que é novidade no menu de muita gente alí.

Quando isso acabar, as pessoas que estavam na Paulista ontem, lado a lado, tomando um espaço político, estarão de lados opostos.

Mas o espaço político que não existia, passará a existir. Esse é o legado.

Essa gente na rua está decretando o fim de uma política que converge para o centro de forma artificial, em nome da ”governabilidade”.

As passeatas estão abrindo a arena política, onde seus componentes vão se digladiar amanhã, (se digladiar politicamente).

Isso não é um golpe como 64, nem a revolução anunciada em 68. Isso é 2013, uma promessa de mais democracia.

Sobre Murilo Silva

Jornalista por acidente.
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2 respostas para 64 ou 68?

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