Por Murilo Silva
Uma das mentiras mais repetidas na história desse país é que inflação se combate com aumento nos juros. Não é assim.
Outra mentira muito repetida é que o real matou o monstro da inflação, não matou.
Em 1994, primeiro ano do real, o IPCA (índice de inflação) medido pelo IBGE fechou em absurdos 916%. O Brasil já havia tido 2.477,15% no ano anterior, era o caos.
Em 2002, Fernando Henrique Cardoso entregou o país com 12,53% de inflação – no acumulado do ano. Uma grande vitória.
Mas se olharmos para os juros, em 2002, a taxa básica estava em 24,90%. Entre o dia 2 setembro de 1998 e 10 de setembro de 1998, para segurar o valor do real e garantir a reeleição, o governo Fernando Henrique quase dobrou a taxa de juros de 25,49% para 40,18% ao mês – hoje a Selic esta em 7,50%, o Copom aumentou a taxa em 0,25% na semana passada.
Ou seja, um país com taxa de juros de 24,90%, número de 2002, não é um país equilibrado, curado da inflação.
A verdade da segunda mentira é que: Fernando Henrique Cardoso não curou o Brasil da inflação, ele manteve o paciente vivo, estável; mas nos aparelhos.
Isso nos remete a primeira mentira: inflação não se combate com juros.
Funciona assim:
O Brasil cresce. Como temos uma diferença social histórica, a camada da população alijada do consumo logo se insere no mercado.
Portanto a demanda cresce, e cresce rápido.
O problema é que a oferta não cresce no mesmo ritmo.
Um exemplo: o Brasil cresce e uma enorme parcela da população que não comprava caneta Bic passa a demandar o produto.
Então a fabrica da Bic que operava em um turno, contrata mais funcionários para operar em dois. Mas isso não é suficiente, a Bic precisa de mais duas ou três unidades, e é aí que o bicho pega.
Até a Bic comprar o terreno, construir a fábrica, comprar os equipamentos, contratar os funcionários, treinar os funcionários para começar a soltar mais Bics, o preço da caneta já disparou. Quem consome tem pressa.
Ou seja, inflação – basicamente, de forma bastante simplificada – é a diferença entre o crescimento da demanda e da oferta.
O tomate
O principal vilão da inflação de hoje são os alimentos. Como resolver?
Será que aumentar o juros derruba o preço do tomate?
A ideia de se aumentar o juros é a seguinte: menos crescimento, menos emprego, menos gente consumindo. A ideia é frear a economia, “é demitir mesmo”, como disse um ex-diretor do BC.
Só que o pobre não parece disposto a abrir mão dessa mania terrível de fazer três refeições por dia.
Ou seja, não é a demanda por tomate, arroz, feijão, legumes e verduras que tem de diminuir. É a oferta de tomate, arroz, feijão, legumes e verduras que tem que aumentar.
Aí, meu caro colaborador, aí entra a reforma agrária.
A agricultura familiar – que é quem planta tomate, verdura, legumes – detém cerca de 24% das terras, e ocupa 75% dos trabalhadores do campo.
O agronegócio – que planta cana, soja, milho para insumo e laranja (o suco da fruta nos Estados Unidos nunca esteve tão barato) tem quase 75% das terras e ocupa apenas 25% da mão de obra.
Essa é a conta. Precisa-se de mais terra para plantar tomate.
E pra isso, mais do que assentar famílias, precisamos de medidas como a do prefeito Haddad, que decidiu comprar parte da produção do MST na região metropolitana.
São necessárias medidas que garantam um minimo de segurança para o produtor poder plantar. Financiamento a juros baixos e a compra do produto a um preço mínimo.
Precisamos de investimento no campo, para que as lavouras cresçam no ritmo da demanda (evitando assim o efeito Bic).
Um amigo meu do MST, me disse esses dias que assentamentos de agricultura familiar do MST se vem obrigados a plantar soja, em suas terras no Mato Grosso, para poder sobreviver. Eles não tem outra opção econômica.
Quer baixar o preço do tomate? Financie esse pessoal e não a banca internacional com mais juros. Não se planta tomate em Walls Street.
O problema é que tem investir em sementes e insumos e até o tomate produzir e pra colher, já gastou-se dinheiro e depois tem o problema do escoamento da safra.Depois a produção é alta e o preço cai e o produtor começa ter problemas e prejuizo. O ano passado teve muitos produtores de tomate tiveram que fazer molho de tomate para amenizar o problema.Tudo isso é muito simples no papel mas a realidade é outra.O ano que vem muita gente vai plantar tomate, porque o preço hoje está alto e depois vão jogar tomate no lixo .Esse negócio de economia é o “Samba do crioulo doido”.
Antonio, combater a inflação não significa congelar os preços. As oscilações são do jogo. Mas se fizermos uma reforma agrária sólida, que além de redistribuir a terra fortaleça o pequeno produtor – por exemplo comprando parte da produção, como a prefeitura de São Paulo se propõe a fazer – essas oscilações tendem a ficar menores e a pressão inflacionária como um todo tende a diminuir. Isso porque você esta atacando onde deve, na produção. Quanto ao escoamento, é claro, você tem toda a rasão. O espirito da coisa no texto é o seguinte: para combater a inflação tem que investir, investir nos gargalos da produção, e não aumentar o juros, parando assim a economia.
isso ainda vai dar samba…
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